Alemanha, Bélgica e Inglaterra ainda são os grandes exemplos de como fazer cerveja. Mas a América começa a entrar na vanguarda da bebida.
Você já ouviu falar em escolas cervejeiras? Não, não é uma escola sobre cerveja, mas sim as grandes nações que influenciaram a bebida produzida em todo mundo.
Historicamente, são consideradas grandes escolas cervejeiras a Alemã, que inclui também República Tcheca, a Britânica, com Inglaterra e as ilhas ao seu redor, e a Belga, que engloba também Holanda e parte da França. Essas regiões conquistaram respeito não por acaso. São nesses lugares que ao longo da história foram desenvolvidas técnicas de produção e tecnologia, onde surgiram avanços científicos e criaram-se os estilos de cerveja consumidos hoje no mundo inteiro. E cada um tem sua marca na bebida, seja por seu terroir ou pelo que inovou.
Escola Alemã
Talvez a mais popular escola seja a alemã, como comenta o sócio-proprietário da Choperia São Paulo, David Michelsohn, um estudioso no assunto. Criadores das Lagers, família de cervejas mais consumida no planeta, suas bebidas costumam ser bastante assertivas. “Tem um perfil sensorial bem comportado, o trabalho da levedura é bem discreto, o malte aparece mais, os lúpulos nobres aparecem, mas é bem limpo. Todas as arestas são aparadas, dificilmente elas vão chocar alguém”, explica.
Uma curiosidade sobre a escola alemã é que um dos estilos mais conhecidos do país não é Lager, mas sim uma Ale: a Weizenbier. Feitas com malte de trigo e originárias da Baviera, as Weizen chegaram a ser proibidas em 1516 com a instituição da famosa Lei de Pureza, mas pouco a pouco voltaram. “A Weizen é muito importante, em geral é a primeira cerveja diferente de uma Lager que as pessoas tomam”, ressalta David.
Escola Belga
No extremo oposto está a escola belga. “Acho que é o principal contraponto a escola alemã”, analisa. Enquanto na Alemanha seguir regras rígidas é comum, na Bélgica os cervejeiros gostam de ousar. “Há muitos estilos diferentes, tem trapistas, tem cervejas ácidas. Até hoje, os cervejeiros belgas têm uma resistência em dar um estilo para suas cervejas”, diz.
Focadas em Ales bastante complexas, as belgas podem conter uma série de diferentes ingredientes, desde outros cereais até frutas e condimentos. “É uma escola bem exótica”, afirma. Mas quem brilha mesmo em seus copos é a levedura. Nota-se muito o trabalho da levedura, com sabores típicos. Aromas diversos, que vão do ácido ao condimentado, passam por frutados, adocicados e alcoólicos, também são resultado desses pequenos organismos. Alguns estilos famosos belgas são Saison, Belgian Blond Ale, Tripel, Quadrupel e Strong Dark Ale.
Escola Britânica
Já as britânicas são uma espécie de meio do caminho entre a exuberância belga e a tradição alemã. “As inglesas têm um amargor presente, características maltadas, o lúpulo aparece bem e tem o uso das leveduras, mas não tão intenso quanto nas belgas”, explica David. A escola inglesa é outra que é marcada pelas Ales, com estilos robustos como Porter, Stout, Bitter e India Pale Ale entre os mais conhecidos.
A inovação dos americanos
A partir dos anos 1970, o domínio dos europeus começou a ser ameaçado por um novo jeiro de pensar a cerveja. Nos Estados Unidos, um movimento de cervejeiros artesanais mudou a forma como a bebida era feita no país e depois, a partir dos anos 1990, no mundo. Algumas correntes chegam a chamar de Escola Americana. “Eles têm representantes de todas as escolas, com o toque americano, com tudo no volume máximo”, afirma. “Tem lúpulo até a língua torcer, são mais técnicos do que os alemães e mais excêntricos do que os belgas”, completa. Há vertentes entre os cervejeiros e cursos, no entanto, que não consideram o país como uma nova escola cervejeira. Alguns estilos norte-americanos são a Imperial IPA, California Common, Cascadian Dark Ale (também conhecida como Black IPA), Cream Ale e Wheatwine.
E o Brasil?
Ninguém ainda arrisca dizer que o Brasil tem uma escola cervejeira própria, mas o caminho já começou a ser trilhado. “O que eu vejo de realmente interessante é que está todo mundo tateando, buscando a escola brasileira. O pessoal já busca usar ingredientes nacionais, frutas, tem gente tentando plantar lúpulo, isolando levedura”, ressalta David.
Um entusiasta da cerveja brasileira é o fundador da Cervejaria Colorado, Marcelo Carneiro, que usa ingredientes típicos do Brasil em todas as suas receitas. Marcelo afirma que a nossa identidade já aparece em muitos rótulos produzidos no país. “Sem perceber, a gente já começou. Muitas das coisas que estão sendo usadas são nossas, como açúcar, rapadura, café, derivados da cana e cervejas envelhecidas em barril de cachaça.
Para ele, esse é o caminho para a escola brasileira ser criada, apostar no terroir brasileiro. Para isso, afirma, é necessário um esforço da comunidade cervejeira para desenvolver essa identidade. “A gente precisa ter criatividade no que a gente faz”, comenta.
fonte: forbeer.net.br